O delegado Tales Gomes, diretor de Operações Especiais da Polícia Civil do Piauí, afirmou que o tenente da Polícia Militar Alexandre Filipe Tupinambá Silva apresenta um padrão de comportamento que pode indicar “traços de homicida serial”. A declaração foi dada durante entrevista ao programa Bom Dia Meio Norte, na qual o delegado comentou sobre dois episódios investigados: a morte do caseiro José de Ribamar e a tentativa de homicídio de um segundo funcionário.
Preso desde 18 de outubro, Tupinambá teve a custódia convertida em preventiva neste domingo (16). Ele segue recolhido no Presídio Militar, em Teresina. O Conselho de Justificação da corporação já decidiu pela expulsão do oficial. O parecer agora aguarda decisão do Governo do Estado.
Segundo o delegado, os dois casos crimes associados ao tenente seguem a linha de contratação de seguros de vida em nome das vítimas, desconhecimento das apólices por parte delas, transferência de empresas para facilitar a fraude e simulação de acidentes elétricos.
Método repetido
Durante a entrevista, Tales explicou que o tenente agia seguindo um roteiro. “Ele planeja a contratação do seguro, transfere empresas para as vítimas, simula uma situação de acidente para a pessoa morrer e o seguro ser contemplado.”
Para a polícia, esse conjunto de elementos, reproduzido em mais de um caso e em intervalo curto, não é casual. “Nessas investigações acerca desse seguro, ele demonstra até ser um homicida serial.”
Tentativa de homicídio: aparelho energizado e apólice de R$ 1 milhão
O segundo caso veio à tona durante a prisão temporária do tenente. O delegado revelou que a polícia encontrou mais uma apólice milionária, desta vez em nome de um funcionário chamado Baixinho, ligado à família da ex-esposa de Alexandre.
O delegado contou que o funcionário foi chamado para retirar um suporte de TV na casa da sogra do tenente no ano de 2023, mas percebeu algo errado. “O Baixinho desconfiou de alguns fios. Depois testou e constatou que o suporte estaria energizado.”
Segundo Tales, o tenente ainda tentou insistir para que o serviço fosse feito. “O Alexandre saiu e voltou com a chave estrela com cabo de metal.”
Após escapar da situação, o funcionário relatou o caso à família da ex-esposa do tenente. Questionado, Alexandre teria admitido o plano. “O Alexandre afirmou que teria mesmo tido a intenção de matar o Baixinho.”
O tenente, no entanto, apresentou uma justificativa diferente da motivação investigada pela polícia. “Ele não falou em seguro. Falou que o Baixinho teria tocado, teria molestado a filha do casal.”
A família então procurou a menina, que tinha entre 10 e 12 anos na época, que negou a situação. “Perguntaram se tinha acontecido algum fato com o Baixinho, e a menina disse que não tinha acontecido nada.” A apólice em nome da vítima era de R$ 1 milhão, e o beneficiário seria o próprio tenente.
Caseiro morto após seguro de R$ 1,5 milhão
Já no caso do caseiro José de Ribamar, morto em abril de 2023, o delegado explicou que a primeira versão apresentada aos órgãos de segurança era de acidente por descarga elétrica. Porém, a evolução das diligências mostrou inconsistências.
“No primeiro momento ficou como descarga elétrico, tanto que a polícia militar da cidade não acionou a polícia civil.”
Com o avanço da investigação, a polícia descobriu que o caseiro tinha um seguro de R$ 1,5 milhão cujo beneficiário seria um advogado ligado ao tenente, informação desconhecida da vítima e da família. “Ele consumou o fato e ainda tentou sacar o valor do benefício.”
Linha do tempo
O delegado apresentou a sequência dos acontecimentos, que também chamou a atenção pela rapidez. “Primeiro ele tentou matar o Francisco de Assis no começo de 2023. Em março fez o seguro para o José de Ribamar. E, em 12 de abril, pouco menos de 20 dias depois da contratação, o José de Ribamar foi morto.”
Para a polícia, a combinação entre planejamento financeiro, método replicado e repetição de vítimas potenciais justificou a análise sobre traços de atuação serial.
intimidação de testemunha
A prisão preventiva foi reforçada por outro comportamento do tenente. Segundo Tales, ele procurou o local de trabalho de uma testemunha um dia após o depoimento dela. “A pessoa se sentiu ameaçada e nos trouxe as imagens.”