Uma via de São Paulo marca o fim de duas gerações da família Paula Silva. Cinco anos separam os assassinatos de pai e filho na Rua Atilio Piffer, na Casa Verde, bairro de classe média na Zona Norte da capital.
Em abril de 2008, o comerciante Mauro de Paula Silva, de 41 anos, foi executado com seis tiros em um bar em frente ao prédio onde morava com a mulher e o filho. Neste ano, no mês passado, em setembro, a poucos metros do lugar onde ele foi assassinado, o ajudante Gustavo Kramer de Paula Silva, de 21, foi encontrado baleado e morto com ?diversos ferimentos? pelo corpo, segundo policiais militares que atenderam a ocorrência.
A Polícia Civil investiga se há relação entre os dois assassinatos. ?Realmente é um ponto a ser considerado o fato de os crimes terem ocorrido na mesma rua?, disse o o delegado Itagiba Franco, da Divisão de Homicídios do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP). "Vamos investigar se há relação entre os dois crimes, mesmo o primeiro tendo ocorrido há mais de cinco anos."
O assassinato do comerciante foi arquivado em 2009 sem a identificação do assassino, segundo o delegado. Câmeras de segurança gravaram as duas mortes. As cenas que flagraram a execução do filho não foram obtidas.
Pai
Esses dois casos haviam sido registrados no 13º Distrito Policial, na Casa Verde, que fica a cerca de 2 km de distância de onde ocorreram os crimes. Mas por conta da complexidade, o fato de as autorias dos crimes serem desconhecidas, as ocorrências foram encaminhadas para o DHPP.
Segundo um dos boletins, por volta das 18h20 de 25 de abril de 2008, Mauro de Paula Silva entrou num bar, com toldo amarelo, na Rua Atilio Piffer. Lá, foi conversar com um conhecido perto de uma mesa de sinuca. O assassino, que usava camiseta branca e estava de calça, aparentemente o esperava.
Testemunhas relataram à polícia que o criminoso bebia um refrigerante no balcão e, ao notar a chegada de Mauro, virou-se e disparou várias vezes. Cinco projéteis atingiram o peito do comerciante e a sexta bala, sua cabeça. As imagens obtidas pela equipe de reportagem mostram a vítima caminhando até a calçada, onde cai e morre. Aproveitando a correria causada pelos disparos, o assassino não identificado foge. Do outro lado da rua fica o prédio onde o comerciante morava com a mulher e o filho.
Filho
Mais de cinco anos depois, por volta da 1h de 15 de setembro último, na mesma Rua Atilio Piffer, o filho do comerciante foi assassinado de forma parecida. Como fazia frequentemente, segundo seus vizinhos, Gustavo Kramer de Paula Silva estava na calçada do prédio onde morava quando foi baleado na cabeça e na região lombar. Ele morreu na calçada. O criminoso, desconhecido, também fugiu.
O site G1 procurou a mulher de Mauro, que é mãe de Gustavo, para falar dos casos. Segundo o porteiro do prédio onde ela mora, a irmã da viúva informou que a mulher não queria comentar o assunto no momento. Advogados da família também foram procurados, mas não retornaram as ligações até a conclusão desta matéria.
Vizinhos ouvidos pela equipe de reportagem, sob condição de não terem seus nomes revelados, disseram que tanto o pai quanto o filho eram tranquilos. Outros conhecidos, porém, relatam que ambos tinham desavenças com outras pessoas. ?Eles morreram porque se envolveram com pessoas erradas?, disse um morador, que também não quis ter a identidade divulgada.
Segundo ele, o comerciante tinha uma tatuagem de índio no braço esquerdo e costumava jogar futebol em um campinho da região. ?Uma briga de jogo pode ter motivado o crime?, afirmou.
Passagens
De acordo com policiais civis, Mauro respondeu por cinco furtos, sendo inclusive condenado pelo crime num dos casos. Os crimes ocorreram em 1988, 1989, 1994, 2000 e em 2002. Em 2003, ele foi condenado à pena de 2 anos de reclusão e pagamento de 10 dias multa por um dos furtos, segundo informação de um dos processos no site do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP).
Apesar disso, ele cumpriu a pena em regime aberto, com prestação de serviços à comunidade e pagamento de multa. Também foi condenado em 2007, numa ação de despejo por falta de pagamento, a quitar a dívida de 12 aluguéis e desocupar um imóvel.
A página de processos do TJ-SP também mostra que Gustavo respondia a duas ações após a morte do pai. Um processo de abril deste ano mostra que o ajudante foi preso em flagrante por ?porte ilegal de arma de fogo com numeração suprimida?.
Para ser solto, foi obrigado a pagar fiança arbitrada pela Justiça, no valor de R$ 678, um salário mínimo. Ação de setembro de 2012 também indica que ele respondia por ?busca e apreensão em alienação fiduciária?, ou seja, havia adquirido um veículo, mas não tinha quitado o pagamento por ele. Na decisão, também foi determinada a apreensão do bem.