Um relatório de inteligência da Secretaria Nacional de Políticas Penais alerta para a possibilidade de um acordo de cooperação entre as facções PCC (Primeiro Comando da Capital) e Comando Vermelho (CV). O documento sugere que as duas organizações criminosas estariam coordenando ações para obter condições mais favoráveis para os presos considerados mais perigosos no sistema penitenciário brasileiro.
As investigações revelaram gravações, autorizadas judicialmente, de conversas entre detentos e seus advogados dentro do parlatório, local reservado nas penitenciárias federais para esses encontros. Essas gravações foram fundamentais para o levantamento das informações sobre a possível aliança entre as facções, visando a uma maior flexibilidade no tratamento de seus líderes.
O relatório do Serviço de Inteligência do Ministério da Justiça, que o Fantástico teve acesso, aponta que os advogados das duas facções estariam se unificando. Essa ação, conforme o relatório, teria o objetivo de fortalecer o PCC e o CV, principalmente em relação a demandas que envolvem os líderes criminosos presos no sistema penitenciário federal.
condições no presídio
No regime disciplinar diferenciado das penitenciárias federais, os detentos são mantidos em celas individuais, com monitoramento por câmeras, e têm direito a apenas duas horas diárias de banho de sol. Além disso, as visitas são restritas a uma vez por semana e sem contato físico, e não é permitido que os presos assistam televisão, leiam jornais ou utilizem internet ou celulares.
O relatório também indica que membros do PCC estariam mobilizando assinaturas de eleitores para um abaixo-assinado, buscando flexibilizar as restrições do regime. O objetivo seria permitir a retomada das visitas com contato físico nas penitenciárias federais, uma medida que pode aliviar o isolamento dos presos.
Secretário defende isolamento
De acordo com o Ministério da Justiça, a unificação dos trabalhos jurídicos entre as facções pode ir além do âmbito judicial. O secretário nacional de políticas penais, André Garcia, defende a manutenção do isolamento, afirmando que ele é essencial para interromper a comunicação e a articulação dos líderes criminosos, o que ajudaria a conter o poder das facções dentro do sistema prisional.
O relatório também menciona que a unificação das facções pode estender suas ações para as ruas. Autoridades investigam mensagens de texto que indicam uma trégua entre o PCC e o CV, com a proibição de ataques e mortes em diversos estados. No entanto, a autenticidade dessas mensagens ainda está sendo analisada.
O promotor Lincoln Gakiya, especialista em investigações sobre o PCC, afirma que a trégua entre as duas facções já está em vigor nas principais capitais brasileiras, como Rio de Janeiro e São Paulo. Ele alerta que essa união pode resultar em um aumento do tráfico internacional de cocaína e armas, além de fortalecer ainda mais essas organizações criminosas no país.