Cinco policiais do Batalhão de Choque foram presos após imagens de câmeras corporais revelarem furtos e ocultação de armamentos durante a megaoperação realizada em 28 de outubro, nos complexos da Penha e do Alemão, no Rio de Janeiro ação que terminou com 122 mortos e se tornou a mais letal da história do país. Os vídeos, obtidos com exclusividade pelo blog True Crime, mostram desde o desvio de peças de uma picape roubada até o desaparecimento de fuzis apreendidos em meio ao confronto.
“Tem uma pecinha aqui que eu preciso”
Um dos vídeos registra uma picape Fiat Toro branca, roubada por traficantes, estacionada no interior da comunidade. De dentro da viatura, um policial diz: “Machado, deixa eu olhar essa Toro aqui”. Ele examina minuciosamente o veículo, pedindo inclusive uma “chave 10” para mexer na estrutura da caminhonete.
Nas imagens, o sargento Eduardo Coutinho aparece destacando o farol, capas de retrovisor e a tampa de proteção do motor. Ao lado dele, o subtenente Marcelo Luiz do Amaral observa a cena. Em determinado momento, Coutinho afirma: “Tem uma pecinha aqui que eu preciso”. Amaral responde: “A hora é essa”, em um sinal de aval para o furto, segundo a Corregedoria.
De acordo com a investigação, os policiais sabiam que a caminhonete era roubada e circulava livremente dentro do morro, mas optaram por retirar peças de alto valor em vez de apresentá-la à Polícia Civil.
Fuzil desaparecido e suposta ocultação
Outro conjunto de gravações mostra o 2º sargento Diogo da Silva Souza recolhendo um fuzil após uma troca de tiros. O armamento, que deveria ter sido entregue a uma delegacia, nunca foi registrado.
Ao deixarem o Complexo da Penha, os policiais se encontram em uma padaria com outros agentes, entre eles Amaral. Nas imagens, discutem como esconder a arma. Um deles sugere levar para “um lugar deserto”. Outro afirma: “Vou montar novamente”. A Corregedoria concluiu que houve intenção deliberada de ocultar o material bélico. O fuzil desapareceu.
Mais um fuzil some e áudios reforçam suspeitas
Em outro ponto da megaoperação, dois policiais os sargentos Charles William Gomes dos Santos e Marcus Vinícius Ferreira Silva Vieira, deveriam entregar um segundo fuzil e uma pistola de 9 mm. Mais uma vez, o armamento não foi apresentado. No áudio captado pelas câmeras, eles combinam a ocultação: “Vê se não tá aparecendo”. A resposta: “Tá não, vai”.
Os cinco policiais foram presos e levados ao presídio da PM, no Fonseca, em Niterói. Segundo a corporação, a análise técnica das câmeras corporais apontou indícios de crimes militares. A Polícia Militar disse que “não compactua com desvios de conduta”.
A defesa de Diogo da Silva Souza, representada pelo advogado Marcos Espínola, chamou a prisão de “desnecessária”. Ele argumenta que os PMs “estavam no exercício da profissão”. Espínola afirma que somente uma perícia completa nas imagens poderá esclarecer os fatos e questiona: “Prender neste momento por quê? Para quê?”.
Buscas, apreensões e histórico de irregularidades
Além das prisões, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão nas casas dos militares. A Corregedoria também vasculhou armários no Batalhão de Choque em busca de outros itens desviados.
O blog True Crime já havia revelado episódios semelhantes no Complexo do Lins, onde câmeras corporais flagraram policiais separando perfumes, tênis e caixas de som durante outra operação. Eles também foram presos após comprovação dos furtos.