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Lucas Padula

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Homem morre após participar de ritual religioso com fogo em São Bernardo do Campo

As investigações só começaram quase 20 dias depois do crime após denúncia anônima

Jefferson teve 60% do corpo queimado após participar do ritual. | Foto: Reprodução

Um verdadeiro mistério ronda as investigações na morte de Jefferson Charles Cano, de 47 anos. O homem morreu após ter 60% do corpo queimado após participar de um ritual religioso, em uma espaço chamado “Cova dos Ossos”, que fica no Jardim Laura, em São Bernardo do Campo, no Grande ABC. O caso aconteceu no dia 20 de julho, mas a delegacia responsável pelo caso só recebeu a denúncia em 07 de agosto. 

Além de Jefferson, a esposa dele, Elaine Teberga Cano também ficou ferida e foi internada em uma UTI de um hospital particular. Outras pessoas também precisaram de um atendimento médico, sendo que pelo menos duas pessoas correm risco de morte. A Coluna do Padula conversou com a delegada do 8º Distrito Policial de São Bernardo, dra. Liliane Doretto, que explica que o espaço não tinha alvará de funcionamento e que houve fraude processual, pois os responsáveis limparam o espaço, apagando possíveis provas. 

“Quando chegaram os fatos, a primeira coisa que determinado, foi que a investigação fosse a campo e identificasse o local e as vítimas, com base no boletim de ocorrência, chegamos ao nome do falecido e fomos até o filho dele, que sempre muito evasivo, disse que eles estavam em um ritual de Kimbanda, de raízes africanas e que se eles se reuniam, cerca de 50 pessoas. Tem umas imagens que a investigação pegou, onde as pessoas do templo são flagradas pedindo para não chamar a polícia, nem Samu e nem o resgate”, disse a delegada. 

Segundo informações apuradas pela Coluna, o ritual basicamente acontece em volta de um caldeirão com chamas altas e que em determinado momento, um combustível é lançado para manter intensamente o fogo. Geralmente, o ritual ocorre em local aberto e nesse caso, era em um espaço fechado e sem licença. Segundo as investigações, um outro ponto importante é que extintores de incêndio só foram colocados no local, 23 dias depois do crime, após a ida da Polícia Civil no espaço.  

Foto: Reprodução

“Há fraude processual pois alteraram o local após o crime, não quiseram que a polícia estivesse presente e nem os socorristas, uma pessoa morreu e outras estão com risco de morte, outras ficaram feridas e também não querem fazer o boletim de ocorrência”, disse a delegada. 

Segundo as investigações, testemunhas foram ouvidas, como a responsável pelo local, que afirmou não ter visto ou sentido algo, por estar em transe religioso. O Instituto de Criminalística constatou uso de etanol em caldeirão com fogo em ambiente fechado, sem medidas de segurança. Para a polícia, o caso é tratado como negligência e dolo eventual (quando uma pessoa, embora não deseje diretamente um resultado prejudicial, aceita o risco de que esse resultado ocorra como consequência de sua ação). Entre os investigados estão os dirigentes do espaço Angélica Lopes Della Torre e Pedro Henrique, além de demais auxiliares.

Até o momento, não houve prisão em flagrante, uma vez que o fato somente chegou ao conhecimento da delegacia dias depois do caso. Contudo, a autoridade policial avalia representar por medidas cautelares, de acordo com a consolidação dos elementos de prova.

“Pelo o que estou verificando, com base nas imagens das câmeras de segurança, testemunhas e essa manobra de ocultar o fato da polícia é que efetivamente os responsáveis dessa prática eles agiram com dolo eventual, não vejo culpa. No Brasil não há nenhum problema em relação a liberdade religiosa, a prática ou rituais, o que é ilegal é usar uma prática que nessa ritualização há uma conduta criminosa”, finalizada a delegada. 

Em nota, a Polícia Civil de São Bernardo do Campo informou que a investigação não tem como objeto a fé ou a liberdade religiosa, mas sim as condutas de risco assumidas no episódio, com o uso de substâncias inflamáveis em local fechado, sem medidas de segurança adequadas. 

“As diligências prosseguem com oitivas, requisições de prontuários, análise de imagens e laudos periciais, havendo já indícios de crime sob a forma de dolo eventual. A autoridade policial poderá representar por medidas cautelares em momento processual adequado”, encerra a nota.

Tentamos contato com o espaço religioso, mas não encontramos os responsáveis. O espaço segue aberto. 

 

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
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