Mais da metade dos 117 corpos de suspeitos mortos na megaoperação policial nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio, já foi identificada no Instituto Médico-Legal (IML) Afrânio Peixoto, no Centro da cidade. A ação, batizada de Operação Contenção, é considerada a mais letal da história do estado, com 121 mortos confirmados, entre eles, quatro policiais civis e militares.
Desde as primeiras horas desta quinta-feira (30), o IML virou ponto de desespero para dezenas de famílias. Mães, irmãos e companheiros se aglomeram na porta em busca de notícias. Um posto do Detran-RJ foi montado ao lado do prédio para atender os parentes das vítimas e ajudar no processo de reconhecimento.
No total, 117 corpos estão sendo periciados no local. Técnicos trabalham em ritmo acelerado, enquanto representantes da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados, da Defensoria Pública e de outros órgãos devem visitar o espaço nesta tarde para acompanhar as perícias.
O Ministério Público do Rio de Janeiro também realiza análises independentes nos corpos, em meio a denúncias de possíveis execuções e irregularidades durante a operação. O procurador-geral de Justiça, Antônio José Campos Moreira, destacou que o acesso às imagens gravadas pelos agentes é essencial para esclarecer o que ocorreu. Parte desses registros, no entanto, pode ter sido perdida, segundo o secretário da PM, coronel Marcelo de Menezes, devido à duração limitada das câmeras usadas nas fardas.
Ação mais letal da história do estado
A operação, que mobilizou 2.500 agentes das polícias Civil e Militar, tinha como objetivo enfraquecer o Comando Vermelho e cumprir cerca de 100 mandados de prisão e 150 de busca e apreensão.
O que se viu, porém, foi uma sequência de confrontos intensos, principalmente na Serra da Misericórdia, onde dezenas de corpos foram encontrados por moradores. Muitos foram levados até a Praça São Lucas, no Complexo da Penha, para facilitar o reconhecimento pelas famílias.
“Cena de tragédia”: relatos de moradores
“Eu moro aqui há 58 anos. Nunca vi isso. Vai ser difícil esquecer. Essa cena foi trágica”, relatou uma moradora. Outro comparou o cenário a uma catástrofe: “A cidade tá igual tragédia, como tsunami, terremoto, com corpo espalhado em cima do outro.”
Um morador da Vila Cruzeiro desabafou: “Isso aqui é estarrecedor. Tô chocado. O que a Vila Cruzeiro precisa é de educação, não de guerra.”
Mesmo quem não perdeu familiares sente o peso da tragédia. “Não é um dos meus que tá ali, mas eu sou mãe. Sei o que cada um tá passando, porque também já tive uma perda”, contou uma mulher, à porta do IML.
A Polícia Civil informou que o acesso ao instituto está restrito à corporação e ao Ministério Público. Casos sem ligação com a operação estão sendo encaminhados para o IML de Niterói. A liberação dos corpos ainda não tem previsão para ser concluída.