Tráfico rende R$ 80 mil mensais no pior presídio do país

A superlotação do Presídio Central é tão grave que não são agentes carcerários, mas sim policiais militares, os responsáveis pela administração.

Avalie a matéria:
|
FACEBOOK WHATSAPP TWITTER TELEGRAM MESSENGER

O comércio de drogas dentro do Presídio Central de Porto Alegre, o mais superlotado do Brasil e apontado como o pior do País pela CPI do Sistema Carcerário em 2008, movimenta semanalmente entre R$ 20 mil e R$ 30 mil na maioria das 27 galerias que estão em funcionamento, segundo informações da Promotoria de Fiscalização dos Presídios do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Por mês, o faturamento dos presos com o tráfico dentro da penitenciária ultrapassa os R$ 80 mil.

De acordo com o Ministério Público (MP), existe uma organização implantada pelas diversas facções nos presídios, segundo a qual os chefes dos grupos atuam como verdadeiros empresários. "Temos informações de controle de tráfico feito pela rede bancária. O preso consome crack dentro dos presídios, e a família recebe uma ligação dizendo quando foi gasto e faz o depósito", afirma o promotor responsável pela fiscalização dos presídios da região metropolitana de Porto Alegre, Gilmar Bortolotto, que atua há 13 anos na função.

A superlotação do Presídio Central é tão grave que não são agentes carcerários, mas sim policiais militares, os responsáveis pela administração e segurança do local. O Central está interditado há 15 anos (significando que nenhum novo condenado deve ser enviado para lá), e algumas das galerias estão parcialmente ou totalmente interditadas pelo excesso de presos e pela precariedade. Com capacidade de receber pouco mais de 1,7 mil presos, hoje abriga mais de 5 mil.

Em uma das galerias interditadas, conhecida como "masmorra", os presos circulam livremente pelas celas sem grades, com capacidade para oito pessoas, mas que chegavam a abrigar 40. "Isso dava menos de um metro quadrado para cada preso. Lá dentro existem armas, drogas, celulares e até granadas", afirma Gilmar Bortolotto. A reportagem do Terra, em visita ao Presídio Central no mês de outubro, comprovou in loco o material apreendido pela polícia nas celas.

O Terra esteve em uma das galerias onde hoje estão abrigados 264 detentos, mas que, antes da interdição, abrigava mais de 400. Na estrutura do prédio, quase em ruínas, as goteiras e a sujeira são problemas evidentes, mas dentro das galerias, os presos se sentem em casa com suas geladeiras, freezers, liquidificadores e ao menos três televisores em cada uma das 42 celas, sendo que algumas tinham até estoque de comida. Segundo a polícia, tudo está dentro do que é autorizado pela Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe).

Atualmente, o Central abriga apenas presos provisórios, e recebe diariamente entre 50 e 60 pessoas. No dia da visita da reportagem, da 0h até às 9h, 14 pesos haviam sido levados ao local. Além disso, todos os dias 200 presidiários entram e saem da casa prisional para participarem de audiências judiciais. Se o Presídio Central fosse uma cidade, seria a 218º mais populoso do Estado do Rio Grande do Sul, que tem 496 municípios.

A responsabilidade da cozinha

Para atender este pequeno município, a cozinha, projetada para atender 1,7 mil presos, trabalha 24 horas por dia. Quarenta presos se revezam em três turnos para produzir o suficiente para alimentar a população carcerária que consome diariamente 15 mil pães, 300 kg de carne e 700kg de feijão. Segundo um dos responsáveis pela alimentação no Central, Eduardo Pereira, 40 anos, preso por tráfico de drogas, o segredo da boa comida está nas medidas. "É uma grande responsabilidade. Eu garanto o arroz soltinho, porque senão, o pessoal me pega na rua quando eu for para o semiaberto", brinca.

Pedaços do presídio viram armas

A criatividade e a engenharia dos presos impressionam até os policiais mais calejados pela realidade do Central. As armas e utensílios apreendidos durante as revistas são produzidos com pedaços do presídio. São facas feitas com ferro arrancado dos antigos canos expostos nas paredes cheias de infiltração; revólveres que usam munição real, fabricados com pedaços de madeira e metal; granadas manufaturadas com lâmpadas recheadas de pólvora e estilhaços cobertas com durepoxi, além de pseudo-eltrodomésticos que fazem parte da aparelhagem de qualquer presidiário abrigado em uma casa prisional superlotada: fogões feitos de tijolos e resistências elétricas e carregadores de celulares feitos a partir de rádio-relógios.

Em um episódio no mínimo curioso, pombos foram pegos com celulares amarados no corpo. "Ainda não descobrimos de quem foi essa ideia genial", diz o diretor do presídio, tenente coronel Leandro Santiago, que antes de administrar o Central, cuidava do departamento de educação física da Brigada Militar.

Obras

O Ministério Público diz que tem cobrado das autoridades, até na Justiça, as melhorias no local. As obras da cozinha nova e do sistema esgoto estavam paradas no dia da visita feita pela reportagem. De acordo com o MP, que acompanhou os trabalhos, as intervenções começam, mas não são concluídas.

A secretaria de Obras do Estado diz que os trabalhos não estão parados, mas sim em processo de aditivo de prazo, porque deveriam ter sido concluídas em julho e necessitaram de ampliação de prazo para o fim das obras, que deveria ocorrer em 61 dias, se somados os dias necessários para os trâmites burocráticos. O valor da obra é de R$ 932.571,32.

A Susepe informa que o orçamento total do presídio é de R$ 947 mil, que inclui as contas de gás, luz, telefone, alimentação, água e um adiantamento R$ 8 mil para reparos rotineiros. Segundo os administradores do presídio, apenas a conta mensal de água custa cerca de R$ 600 mil. Em relação a superlotação do Central, a Susepe afirma que já estão sendo realizadas novas obras em outras unidades do Estado para desafogar o presídio, processo que deve iniciar, garante, no começo de 2011.



Participe de nossa comunidade no WhatsApp, clicando nesse link

Entre em nosso canal do Telegram, clique neste link

Baixe nosso app no Android, clique neste link

Baixe nosso app no Iphone, clique neste link


Tópicos
SEÇÕES