SEÇÕES

Vereador é preso por negociar com facção criminosa em troca de apoio político, diz polícia

Operação “Muro de Favores” aponta que Ernane Aleixo, de São João de Meriti, fazia parte do braço político da facção na Baixada Fluminense

Polícia prende o vereador Ernane Aleixo (PL), de São João de Meriti, suspeito de ter negociado com traficantes vagas de nomeação em troca de apoio político | Foto: Fabiano Rocha / Agência O Globo
Siga-nos no

O vereador Ernane Aleixo (PL), de São João de Meriti, foi preso na manhã desta terça-feira em uma operação da Polícia Civil que mira o núcleo político e logístico do Terceiro Comando Puro (TCP) na Baixada Fluminense. Segundo as investigações, Aleixo atuava como elo entre interesses eleitorais e a facção, oferecendo vantagens políticas e suporte operacional em troca de apoio.

A corporação afirma que áudios e mensagens interceptados revelam que o vereador negociou vagas de nomeações em seu gabinete com integrantes ligados ao TCP. Além disso, teria oferecido materiais e ajuda direta para a construção de barricadas em Vilar dos Teles, usadas para impedir o acesso policial e bloquear serviços essenciais na região.

Trocas de favores e influência política

De acordo com os investigadores, Aleixo participava de um esquema de “favores” que fortalecia o domínio territorial do TCP. A polícia aponta que sua atuação proporcionava benefícios financeiros e eleitorais, ao mesmo tempo em que oferecia suporte operacional à facção.

A construção de barricadas, prática amplamente combatida pela Operação Barricada Zero teria contado com o apoio direto do vereador. O material fornecido por ele teria ajudado a erguer bloqueios que dificultavam ações das forças de segurança e prejudicavam moradores de Vilar dos Teles.

Troca de mensagens entre o vereador Ernane Aleixo (PL), em que ele oferece material e suporte para construções de barricadas, além de ter negociado vagas de nomeação em troca de apoio político — Foto: Reprodução 

Histórico político e discurso de integridade

Em sua biografia oficial no site da Câmara de São João de Meriti, Ernane Aleixo se descreve como “um homem íntegro, honesto e cumpridor dos seus deveres”. Ele está em seu quinto mandato como vereador, reconduzido consecutivamente ao cargo desde sua primeira eleição, em 2008.

Em 2024, foi eleito com 6.720 votos pelo PL, mesmo partido do governador Cláudio Castro. Após assumir o mandato, publicou nas redes sociais uma mensagem de agradecimento à população:

“Ontem, meu coração transbordou de alegria e gratidão ao assumir, mais uma vez, o compromisso de representar cada cidadão de São João de Meriti no meu 5º mandato (...). Esta conquista não é apenas pessoal, mas reflete a confiança e o apoio que recebi de cada um de vocês.”

A Operação “Muro de Favores”

Deflagrada nesta terça-feira, a operação cumpre oito mandados de prisão e 36 de busca e apreensão. O objetivo é desarticular um esquema que mistura tráfico de drogas, extorsão de comerciantes, homicídios e corrupção política em cidades da Baixada.

Segundo a Polícia Civil, o núcleo investigado é comandado por Marlon Henrique da Silva, o “Pagodeiro”, braço-direito de Geonário Fernandes Pereira Moreno, o “Genaro”, líder do TCP na região. A investigação aponta ainda que “Pagodeiro” confessou o assassinato de três pessoas, entre elas uma mulher, durante confronto com um grupo rival em novembro de 2023.

As ações são coordenadas pela Delegacia de Combate às Organizações Criminosas e à Lavagem de Dinheiro (DCOC-LD), como parte da estratégia da Operação Barricada Zero.

Estrutura criminosa ampliada

O grupo atuava principalmente nas comunidades Trio de Ouro, em São João de Meriti, e Guacha e Santa Tereza, em Belford Roxo. Segundo a polícia, além das atividades ligadas ao tráfico, o TCP utilizava armas de uso restrito e movimentava recursos por meio de lavagem de dinheiro e extorsão qualificada de comerciantes locais.

Com a prisão de Ernane Aleixo, a investigação aponta o avanço da facção sobre estruturas políticas municipais, ampliando seu poder de influência e dificultando o combate à criminalidade na região.

A Polícia Civil segue analisando documentos e materiais apreendidos, e novas fases da operação não estão descartadas.

Tópicos
Carregue mais
Veja Também