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“A casa está dividida pelo ódio”, afirma Sarney ao dizer que teve adversários, mas não inimigos

Sarney revelou que, ao longo de sua vida, sempre buscou não cultivar ódio, o que, segundo ele, lhe trouxe bem-estar e equilíbrio emocional.

Sarney e Lula | Foto: Reprodução
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O ex-presidente José Sarney, em uma recente reflexão sobre os danos causados pelo ódio, destacou a importância da paz interior e da ausência de ressentimentos ao longo da vida. Ele compartilhou experiências pessoais e citou episódios históricos que ilustram como o ódio pode moldar negativamente as relações e o destino das pessoas e das nações.

Sarney revelou que, ao longo de sua vida, sempre buscou não cultivar ódio, o que, segundo ele, lhe trouxe bem-estar e equilíbrio emocional. O ódio, segundo Sarney, leva ao ressentimento e à amargura, sentimentos que prejudicam tanto o indivíduo quanto a sociedade. Para ele, esses sentimentos distorcem a maneira de viver e são prejudiciais ao próprio bem-estar.

Ele também relatou uma memória significativa com o deputado Djalma Marinho, uma figura admirada na política brasileira, que, após perder a presidência da Câmara, demonstrou uma atitude de sabedoria ao rejeitar o ódio. Marinho, ao responder a Sarney, afirmou que, assim como não guardou dinheiro, também não teria razão para guardar ódio e ressentimento. Sarney destacou que Marinho era um exemplo de pessoa com uma alma pura, que se opôs ao autoritarismo do regime militar, ao recusar-se a seguir uma ordem governamental de processar o deputado Moreira Alves durante o período do AI-5.

Ao discutir as consequências do ódio, Sarney fez referência a grandes escritores como Tolstói, Dostoiévski e Shakespeare, que abordaram em suas obras os danos profundos causados pelo ódio, levando suas personagens a destinos trágicos, como suicídios e assassinatos. Sarney também alertou sobre a divisão crescente no Brasil, onde o ódio tem se infiltrado não apenas na política, mas também nas relações pessoais e familiares. Segundo ele, essa divisão é uma ameaça à prosperidade do país, lembrando um princípio cristão: "uma casa dividida não prospera".

Sarney criticou a polarização extrema da política brasileira, na qual a luta política transcendeu para um embate entre "adeptos do diabo" e "adeptos de Deus", e os adversários se tornaram vistos como inimigos, o que lembra as teorias de Carl Schmitt, jurista do regime nazista. Ele alertou que a política não deve ser encarada como uma guerra, onde os opositores são eliminados, mas sim como um campo de diálogo e respeito.

Ao citar a violência provocada pelo ódio em contextos históricos, Sarney lembrou das tragédias ocorridas no Terceiro Reich e na Revolução Russa, quando o ódio ao "inimigo" levou a massacres em larga escala. Ele trouxe à tona ainda uma lembrança do famoso orador Carlos Lacerda, que, em um de seus discursos, afirmou que "até o ódio é fingido", referindo-se ao clima político de sua época. Para Sarney, o ódio real, presente hoje no Brasil, é um problema grave que afeta não apenas a política, mas a convivência entre os cidadãos.

O ex-presidente finalizou sua reflexão mencionando o caso recente de um processo envolvendo uma proposta de assassinato contra figuras do governo, como o presidente, o vice-presidente e um ministro do Supremo Tribunal Federal. Para ele, o ódio é a semente de divisões profundas, e é necessário que as autoridades investiguem e punam os responsáveis, seguindo o devido processo legal, como qualquer Estado de Direito deve fazer.

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