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Coluna do jornalista José Osmando - Brasil em Pauta

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Números mostram que São Paulo tem pouco a oferecer no combate ao crime

Entenda a polêmica em torno do projeto antifacção e a influência do governador Tarcísio. Dados de violência em SP levantam questionamentos

Projeto antifacção: atuação de Tarcísio é questionada | Reprodução

O Brasil tem acompanhado o interesse descomunal que o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem manifestado em relação ao projeto de lei anti facção, que está em discussão na Câmara dos Deputados. 

Devotado à causa de modificar amplamente a proposta encaminhada pelo Poder Executivo, e que visa a criação de mecanismos ágeis e seguros para o combate às facções criminosas, temos acompanhado a movimentação do governador paulista.

O principal passo dado pelo governador nesse caminho, foi demitir  o seu secretário de Segurança, Guilherme Derrite, com a finalidade exclusiva de fazê-lo reassumir o mandato de deputado federal e, assim, numa combinação com o presidente da Câmara, Hugo Mota,  assumir a relatória do projeto anti facção, o que de fato aconteceu. 

E o resultado dessa estratégia estranha, foi um relatório que  enfraquece o poder da União, tirando dinheiro da Polícia Federal e da Receita, submetendo a PF aos mandos dos governadores,  e introduzindo elementos estranhos ao objetivo da lei, como classificar o crime organizado como terrorismo.

Se olharmos com atenção para as estatísticas produzidas pelo Estado de São Paulo no terreno da Segurança Pública, vamos constatar que o governador e seu ex-secretário Derrite não estão aptos a oferecer qualquer contribuição positiva nessa área, porque é exatamente em território paulista que se dão as ocorrências mais desastrosas. E se não são capazes de cuidar do seu próprio terreiro, como podem se oferecer para cuidar do bem-estar da população dos demais Estados?

Se alguém tem dúvidas sobre essa análise aqui feita, vamos a alguns indicadores: 

A cada dez assassinatos registrados na cidade de São Paulo, quatro foram cometidos por policiais civis ou militares no ano de 2024, conforme dados divulgados pelo 19º Anuário Brasileiro da Segurança Pública. Ano passado, 357 pessoas foram mortas pela ação policial na capital paulista, um número que carrega o peso de ser 40% de todas as 937 mortes violentas registradas na cidade. 

E se alguém se espanta com essa terrível estatística, ainda temos coisa pior, conforme nos mostra o Anuário do ano passado: em Santos e São Vicente, duas das principais cidades do litoral paulista, 66,1% de todos os assassinatos registrados ali foram obra de policiais. Essas duas cidades, aliás, foram o palco da Operação Verão/Escudo, no começo do ano passado, considerada como a operação policial mais letal desde o massacre de Carandiru, no qual morreram 111 pessoas.

Mais ainda: Entre janeiro e outubro deste ano de 2025, 53 mulheres foram assassinadas por seus maridos, namorados ou companheiros, na cidade de São Paulo, fazendo da Capital paulista a campeã absoluta no número e feminicídios do país. Esse é o maior índice anual desde 2018, ano em que foi iniciada a contabilização dos crimes contra mulheres. Em todo o Estado, já foram 207 feminicídios este ano. 

Enquanto as mulheres morrem pelas mãos dos próprios companheiros e as polícias paulistas são responsáveis por 40% de todas as mortes violentas, São Paulo se vê, por outro lado, tomado pelas facções criminosas que atuam em vários segmentos econômicos e que chegaram com força  ao coração da Avenida Faria Lima, onde está concentrado o poder financeiro do Estado, com reflexo sobre todo o país.

Prova espantosa dessa realidade sem controle pelos governantes paulistas, foi a Operação carbono Oculto, realizado pela Polícia Federal, Receita Federal e Ministério Público, em São Paulo e mais 7 Estados, que descobriu cerca de 1.000 postos de combustíveis falsificadas pelas facções criminosas, que movimentaram ilicitamente mais de R$ 52 bilhões, através de Fintechs transvestidas de empresas, com cerca de 40 fundos de investimentos funcionando dentro da própria Faria Lima, ocultando patrimônio, acumulando dinheiro de maneira ilícita e sonegando impostos que poderiam financiar obras e serviços públicos essenciais às populações.

É de se perguntar, finalmente, o que o governador paulista e seu ex-secretário e Segurança, agora todo poderoso na Câmara, têm de bom para contribuir no esforço urgente de seu combater o crime organizado e colocar seus líderes na cadeia?

*** As opiniões aqui contidas não expressam a opinião no Grupo Meio.
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