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Delação de Mauro Cid sofre reviravoltas e vira alvo de defesas no caso golpista

Ex-ajudante de Bolsonaro mudou versão cinco vezes em depoimentos, incluindo acusações a Braga Netto

Mauro Cid concedendo delação premiada | Foto: Lula Marques/Agência Brasil
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A delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, peça-chave na investigação sobre o suposto golpe de 2022, tornou-se um campo minado para acusação e defesa no STF. Em 12 depoimentos ao longo de 16 meses, o ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) alterou sua versão em cinco ocasiões – incluindo a acusação tardia de que o ex-ministro Walter Braga Netto teria financiado ações para criar "caos social".

As mudanças de narrativa, como a revelação de que Braga Netto entregou uma "sacola com dinheiro grampeado" para custear manifestações, são agora o principal argumento das defesas para desqualificar a colaboração. Um áudio vazado em que Cid dizia estar "sendo pressionado a mentir" alimentou as críticas, embora o militar depois tenha classificado as declarações como "desabafo".

O ministro Alexandre de Moraes manteve a validade da delação, homologada em 2023, mas o colega Luiz Fux destacou "omissões" e acréscimos sucessivos. Apesar das contradições, partes do relato foram corroboradas: os ex-comandantes das Forças Armadas Marco Antônio Freire Gomes e Carlos Baptista Júnior confirmaram a existência de reuniões golpistas, enquanto mensagens e registros do Alvorada reforçaram a tese da acusação.

O caso chegou a um novo patamar quando Cid, sob ameaça de perder o acordo, incluiu Braga Netto como arquiteto de uma reunião pós-eleição para orquestrar o caos. Detalhes que antes eram "foto com amigos" transformaram-se em discussões sobre estado de sítio – mudança que a defesa do general atribui a "pressão da PF". Preso preventivamente em dezembro, Braga Netto nega as acusações e alega "reputação ilibada".

Enquanto o STF prepara o julgamento, as inconsistências na delação prometem acirrar os debates. De um lado, a PGR insiste que as revisões mostram "aprofundamento da verdade"; de outro, as defesas argumentam que Cid age como "testemunha comprada", moldando versões conforme a conveniência. O desfecho pode definir não só o destino dos réus, mas os limites da justiça em casos de alta complexidade política.

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