Ele evita entrevistas, raramente aparece em eventos públicos e prefere o anonimato ao protagonismo. Um funcionário do Palácio do Planalto define o chefe de gabinete do presidente Lula como alguém de "baixo perfil", que "não teria luz própria" — e, nesse caso, essa característica é vista como uma virtude, pois garante a discrição desejada por Luiz Inácio Lula da Silva. Esse é Marco Aurélio Santana Ribeiro, o Marcola, cientista político de 39 anos que, mesmo sem holofotes, exerce um papel central no governo.
Braço direito de Lula desde a prisão
Há quase uma década, Marcola é o homem por trás da agenda do presidente. A relação entre os dois se fortaleceu nos dias difíceis da prisão em Curitiba, entre 2017 e 2019. Enquanto Lula está fora das redes e sem celular, o telefone de Marcola não para de tocar — é praticamente impossível acessar o presidente sem passar por ele.
Nem mesmo Janja, a primeira-dama, costuma contornar essa ponte. Marcola é o filtro, o canal e o escudo. E embora o apelido cause ruídos — já foi alvo de ataques e processos — ele se mantém como um dos colaboradores mais próximos de Lula.
Polêmica com o apelido e fake news
O nome “Marcola” já rendeu confusão. Em um comício da CUT durante a campanha de 2022, Lula fez um pedido em tom de brincadeira:
“Espero que o Marcola consiga espaço na minha agenda para visitar Campinas, Osasco e Guarulhos.”
A fala foi distorcida em redes sociais e usada por adversários para associá-lo ao criminoso Marcos Willians Herbas Camacho, o líder do PCC, também apelidado de Marcola. A onda de desinformação levou o então presidente do TSE, Alexandre de Moraes, a determinar a remoção das postagens.
O episódio reacendeu teorias conspiratórias sobre ligações entre o PT e o crime organizado. Durante as eleições municipais, a campanha do prefeito eleito de Diadema (SP), Taka Yamauchi (MDB), foi acusada de distribuir panfletos anônimos alegando um “repasse de recursos federais através do Marcola”. O chefe de gabinete entrou com ação judicial e pediu uma indenização de R$ 20 mil.
Trajetória política e formação militante
Nascido em Caraguatatuba, no litoral paulista, Marcola é formado em Ciências Sociais pela Ufscar, onde também fez mestrado. Politizado desde jovem, é descrito como "extremamente atencioso, nunca deixa a outra pessoa sem resposta", nas palavras do ministro Paulo Teixeira.
No dia a dia, Marcola não costuma acompanhar Lula em viagens, mas fala com ministros ao menos dez vezes por dia. Ele comanda a agenda presidencial com a ajuda de Osvaldo Malatesta, seu adjunto e ex-colega do Instituto Lula. Malatesta filtra os pedidos e eventos, mas as decisões finais passam por Marcola — e por Lula.
“Ele é detalhista, tem muita paciência para analisar o que é relevante, importante”, destaca outro colega do Planalto.
A agenda oficial do presidente só é divulgada na véspera, e cada compromisso passa pelo crivo do gabinete.
Das bases ao centro do poder
Marcola atuou no governo de Newton Lima, ex-prefeito de São Carlos (SP), entre 2012 e 2013. Depois, trabalhou com os deputados petistas Edinho Silva e Vicente Cândido na Assembleia Legislativa de São Paulo. Passou também pela escola de formação do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e, mais tarde, foi convidado por Paulo Okamoto para integrar o Instituto Lula.
Durante a prisão de Lula, assumiu várias funções: levava cartas, selecionava leituras, organizava os contatos políticos e pessoais do ex-presidente. Nesse período, mudou-se para Curitiba, onde conheceu sua atual esposa, Nicole Briones, jornalista da Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Reconhecimento interno e confiança política
Na campanha de 2018, Marcola trabalhou com Gilberto Carvalho, antigo chefe de gabinete de Lula. O vínculo entre os dois vai além da política.
“A gente é super amigo. Sou uma espécie de irmão mais velho dele que, ao longo da vida, fui dando sugestões e conselhos. Mas ele estava super preparado e credenciado pela trajetória e experiência”, contou Carvalho ao PlatôBR.
Embora muitos digam que Carvalho o tenha treinado como sucessor, ele nega qualquer tentativa de construção artificial.
“Quem disse isso, falou para tentar descredenciá-lo. Mas ele é competente, tem os próprios méritos e todas as qualidades para a função.”