Licenciado do mandato, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) desembarcou em Washington ao lado de Paulo Figueiredo, neto do último presidente da ditadura militar e também réu por tentativa de golpe. O destino: a Casa Branca. O objetivo: fomentar novas medidas retaliatórias contra o Brasil, sob influência do governo Donald Trump.
Na última semana, Trump anunciou tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, em movimento interpretado como resposta à iminente condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em reação, o governo Lula afirmou que usará a Lei da Reciprocidade e garantiu que "não se intimidará" diante de ameaças externas.
"Tudo está na mão do Trump"
Eduardo celebrou o tarifaço e, segundo ele, novas medidas contra o Brasil estão em discussão com autoridades americanas. “Eu não falo em nome de nenhuma autoridade, mas, desse jeito, muito provavelmente o Trump também vai utilizar... Vai apertar outras alavancas para responder ao Brasil... Está tudo dependendo, tudo está na mão do Trump, né?”, declarou à jornalista Raquel Krähenbühl, na porta da Casa Branca.
Mais tarde, ao lado de Figueiredo, ele condicionou uma eventual trégua comercial à aprovação da anistia aos golpistas do 8 de janeiro no Congresso: “A anistia passando no Congresso é um importante primeiro passo. Coloca o Brasil numa boa posição para fazer essas negociações”, afirmou. Figueiredo, por sua vez, ameaçou: “Não parou por aí. É apenas o início de uma jornada que pode ser tenebrosa ao Brasil”.
Suspensão e quebra de decoro
As declarações tiveram repercussão imediata no Congresso. O deputado Lindbergh Farias (PT-RJ) protocolou pedido na Mesa Diretora da Câmara para suspender o mandato de Eduardo Bolsonaro, sob acusação de traição à pátria. “Acionei hoje a Mesa Diretora da Casa para pedir a suspensão cautelar do mandato... promovendo sanções contra o Brasil... e ataques ao STF”, escreveu em suas redes.
Para Lindbergh, o afastamento é urgente: “É preciso apurar também o uso indevido de passaporte diplomático e o financiamento de sua estadia nos EUA por seu pai, o golpista Jair Bolsonaro... com fins golpistas”, completou o petista.
Danos morais e guerra comercial
O advogado-geral da União, Jorge Messias, afirmou que Eduardo poderá ser responsabilizado judicialmente. “Ele pode, sim, causar danos muito grandes ao país... e deverá responder”, disse em entrevista à CNN Brasil. Para Messias, o deputado atua “de modo antipatriótico” e prejudica empresas e trabalhadores brasileiros com sua atuação internacional.
Segundo o ministro, “qualquer centavo que for pago adicionalmente pelas empresas nacionais e qualquer emprego que for perdido, tem que ser cobrado dele”. Messias também responsabilizou a família Bolsonaro pelo tarifaço, afirmando que Eduardo “conspirou contra o seu país para livrar o pai da cadeia”.
Investigado pelo STF
Eduardo Bolsonaro já é alvo de um inquérito no Supremo Tribunal Federal, aberto em maio a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). O parlamentar é acusado de pressionar, por meio de postagens e declarações públicas, por sanções contra ministros do STF, membros da PGR e da Polícia Federal.
O procurador-geral Paulo Gonet apontou que as ações do deputado têm "tom intimidatório" e intenção de interferir no processo penal que envolve Jair Bolsonaro. Eduardo é investigado por coação no curso do processo e obstrução de investigação.