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Escolas de Samba acusam Prefeitura de barrar enredos sobre negros e LGBTs para ceder espaço

A reunião ocorreu poucos dias após a posse do prefeito Airton Souza (PL) e teve como pauta inicial a busca por financiamento para os desfiles.

Secretário Pinheiro Neto é denunciado pelas escolas, mas nega qualquer condição para liberação do espaço. | Foto: Reprodução
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A Associação das Escolas de Samba de Canoas (AESC) denunciou que o secretário de Cultura do município, Pinheiro Neto, teria condicionado a liberação de um espaço para os desfiles de Carnaval à ausência de temas ligados às religiões de matriz africana, à população negra e à comunidade LGBTQIA+.

REUNIÃO COM SECRETÁRIO

Segundo Daniel Scott, vice-presidente da AESC, a declaração foi feita durante um encontro realizado no dia 29 de janeiro no gabinete da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. A reunião ocorreu poucos dias após a posse do prefeito Airton Souza (PL) e teve como pauta inicial a busca por financiamento para os desfiles.

"Foi quando ele fez essa exigência, de que ia ficar muito difícil aceitar enredos que fossem relacionados a religiões afro, orixás, povo negro, movimento LGBTQIA+", afirmou Scott.

Após o episódio, a AESC tentou encontrar outras formas de viabilizar a festa sem depender de verbas públicas. Mesmo assim, a entidade buscou negociar com a prefeitura um espaço para os desfiles, mas recebeu resposta negativa.

POSIÇÃO DA PREFEITURA

A prefeitura de Canoas negou qualquer tipo de restrição aos temas carnavalescos. Em nota oficial, afirmou que "se colocou à disposição para apoiar a realização das festividades com a cedência do Parque Esportivo Eduardo Gomes" e destacou que "preza pela liberdade, o que inclui a livre manifestação artística, cultural e religiosa no Carnaval".

Na última terça-feira (18), Pinheiro Neto declarou, em entrevista a um portal de notícias, que não haveria desfiles de Carnaval em 2025 na cidade.

A afirmação levou a AESC a retomar contato com a administração municipal para tentar obter pelo menos um local para a festa, mesmo sem apoio financeiro. Uma nova reunião com a Secretaria de Cultura foi agendada para a sexta-feira (21), onde a entidade pretende insistir na solicitação.

REPERCUSSÃO NACIONAL

O caso ganhou projeção e gerou reação da Federação Nacional das Escolas de Samba (FENASAMBA). Em nota, a entidade classificou o episódio como "preconceito e intolerância religiosa" e afirmou que está disposta a levar o caso ao Ministério Público.

"Tal atitude, além de revelar um inaceitável preconceito e intolerância religiosa, é crime, tipificado no artigo 208 do Código Penal Brasileiro", destacou a FENASAMBA.

A organização também ressaltou que o Carnaval é "a maior manifestação cultural do povo brasileiro, uma festa preta, de resistência, de preservação da ancestralidade, democrática e inclusiva". A nota reforça o compromisso da FENASAMBA em impedir tentativas de cerceamento das manifestações culturais no país.

PRÓXIMOS PASSOS

A AESC aguarda a reunião de sexta-feira para definir os rumos do Carnaval em Canoas. Enquanto isso, a polêmica continua movimentando os bastidores políticos da cidade e pode levar a um embate jurídico entre as entidades carnavalescas e a gestão municipal.

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