Está próxima de zero a possibilidade de o PSD, do ex-prefeito paulistano Gilberto Kassab, desertar do governo federal do PT e embarcar na canoa do PSDB na disputa presidencial.
Não foi noticiado, mas Kassab esteve com Dilma Rousseff para um encontro reservado na última quarta-feira (14.mai.2014), no Palácio do Planalto, em Brasília.
Nessa conversa, Kassab foi logo pedindo desculpas pelo tom de um comercial do PSD de Minas Gerais, que havia feito um ataque a Dilma Rousseff de maneira frontal na semana anterior. O Blog noticiou o assunto.
Dilma aceitou as desculpas de Kassab. Ouviu do ex-prefeito que o PSD deve reafirmar em convenção nacional em junho o apoio oficial à reeleição da petista.
Kassab entende que neste momento seria um desastre completo para o PSD desertar de Dilma Rousseff e escolher um outro candidato a presidente. O ganho seria pequeno e não compensaria o custo político, altíssimo.
O PSD é um partido que nasceu sob o signo da desconfiança, em 2011. Seria apenas mais uma sigla oportunista e de aluguel. Iria se mover ao sabor das ofertas do poder.
Para tentar debelar essa imagem, Kassab montou um sistema de consultas formais aos 27 diretórios do PSD nos Estados e no Distrito Federal. Essas consultas, por óbvio, tinham grande influência do próprio Kassab. Ainda assim, o método divulgado à mídia era uma novidade. É raro um partido não ideológico se comportar dessa forma.
As consultas resultaram numa ampla maioria dos diretórios do PSD a favor do apoio formal à campanha de reeleição de Dilma Rousseff. Essa adesão é muito relevante para a presidente. O PSD tem hoje o terceiro maior tempo de TV e de rádio no horário eleitoral, empatado (com diferença de alguns segundos) com o PSDB (os maiores tempos são do PT e do PMDB, nessa ordem).
Tempo de rádio e de TV é vital para campanhas políticas no Brasil.
Com o anúncio da adesão a Dilma de forma tão antecipada, Kassab deseja que o PSD ocupe um espaço vago na política brasileira. Esse papel era desempenhado pelo antigo PFL (agora Democratas), como uma sigla de centro-direita confiável quando se propunha a fazer acordos.
Desistir de Dilma Rousseff agora que a presidente está enfrentando dificuldades em nada colaboraria para construir a imagem pretendida por Kassab para o PSD. Insistir nessa aliança, mesmo num momento não tão positivo para o Planalto, faz o PSD subir mais alguns degraus na direção de ser uma sigla (embora não ideológica) confiável para fazer acertos políticos.
HENRIQUE MEIRELLES E JOSÉ SERRA
Mas então é impossível Kassab e o PSD desistirem de Dilma agora? Em política, nada é impossível. Mas há indicações reais de que são furadas, pelo menos, as especulações sobre Henrique Meirelles (o ex-presidente do Banco Central é filiado ao PSD) ser o candidato a vice-presidente do tucano Aécio Neves.
Há nuances que não foram captadas pelas notícias a respeito desse assunto.
Aécio Neves está à caça de um candidato a vice-presidente que de fato o ajude na campanha eleitoral ?sobretudo em solo paulista. O PSD colaboraria muito por causa do seu tempo de TV.
Ocorre que Henrique Meirelles ao lado de Aécio Neves como candidato a vice-presidente seria também um problema de razoáveis proporções para o tucano na campanha em São Paulo.
Por quê? Porque Aécio Neves tem hoje 2 problemas em São Paulo (e um terceiro seria a escolha de Meirelles).
Primeiro, o governador do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), tentará se reeleger e não dá indicações de que fará algum esforço real para ajudar Aécio a ganhar o Planalto.
O segundo problema de Aécio em São Paulo se chama José Serra, o tucano paulista que sonhou a vida inteira em ser presidente da República. Serra não nutre admiração por Aécio. Por enquanto, nada indica que Serra vá ajudar na campanha presidencial do seu colega de partido (apesar, é claro, das declarações oficiais).
Em resumo, mais do que um candidato a vice-presidente, Aécio Neves precisa de um nome que o ajude a pacificar o PSDB de São Paulo. Serra seria esse nome. Se entrasse na chapa de Aécio, não teria como não fazer campanha. E como efeito colateral, empurraria Alckmin também para a linha de frente aecista.
Ocorre que Serra ontem (18.mai.2013) anunciou que não deseja ser candidato a vice-presidente.
Não há como saber se Serra faz tal declaração para aumentar ainda mais o valor de seu passe até a data da convenção nacional do PSDB, em 14 de junho, quando a chapa poderá ser anunciada ?embora nessa data possa sair só o nome do candidato a presidente; o do vice ficaria para até o último minuto de 30 de junho, o prazo legal.
Noves fora as especulações, no momento, sabe-se que Serra está dizendo em público que não será o candidato a vice-presidente na chapa encabeçada por Aécio.
E onde entra Henrique Meirelles nessa equação como o ?terceiro problema?? Simples: Meirelles é uma personalidade incompatível com José Serra. O tucano não tem admiração (para dizer o mínimo) pelas ideias do ex-presidente do Banco Central.
Se a chapa do PSDB fosse composta por Aécio Neves e Henrique Meirelles, os tucanos paulistas liderados por Serra ficariam muito insatisfeitos. A dupla Aécio-Meirelles seria desprezada pelos serristas.
Ou seja, o problema político de Aécio só vai piorar em São Paulo se o seu candidato a vice fosse Meirelles.
Este Blog notou nos últimos dias que esse balão de ensaio sobre Meirelles como vice de Aécio foi muito mais inflado pelo mercado financeiro do que por forças políticas reais na disputa presidencial.
Para terminar, mais uma informação dos bastidores desse processo. No caso de ocorrer o altamente improvável descolamento do PSD de Dilma Rousseff, o partido teria um nome certo para ser candidato a vice-presidente República: Gilberto Kassab, que agora só aparece como possível candidato a vice-governador na chapa de Geraldo Alckmin, em São Paulo.
Kassab é amigo de Serra, a quem é muito fiel.
Kassab resolveria os problemas de Serra se fosse vice de Aécio. O tucano teria alguém de sua inteira confiança política dentro do projeto presidencial do PSDB. Não precisaria se humilhar ficando na posição subalterna de vice de alguém que não aprecia verdadeiramente.
E Kassab resolveria também os problemas de Aécio: daria mais tempo de TV e de rádio para o tucano. E pacificaria o cenário no PSDB de São Paulo.
Mas as chances de toda essa bruxaria política se materializar são mínimas, quase inexistentes. Tão pequenas quanto as de Luiz Inácio Lula da Silva tomar o lugar de Dilma Rousseff na corrida pelo Planalto.