Os líderes dos países do Brics discutiram como ampliar os mecanismos de comércio entre as nações do bloco de países emergentes. A cúpula virtual aconteceu na segunda-feira (08/09) e foi convocada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o objetivo de coordenar estratégias centradas no multilateralismo, em meio à nova política dos Estados Unidos de elevar as tarifas de parceiros comerciais.
Segundo Lula, o comércio e a integração financeira entre os países oferecem opção segura para mitigar os efeitos do protecionismo. Em seu discurso aos chefes de Estado, ele acrescentou que o grupo de potência do Sul Global tem “a legitimidade necessária para liderar a refundação do sistema multilateral de comércio em bases modernas, flexíveis e voltadas às nossas necessidades de desenvolvimento”.
O líder brasileiro também citou o papel do Novo Banco de Desenvolvimento (banco do Brics) na diversificação das bases econômicas e as complementariedades entre os países.
“Juntos, representamos 40% do PIB global, 26% do comércio internacional e quase 50% da população mundial. Temos entre nós grandes exportadores e consumidores de energia. Reunimos as condições necessárias para promover uma industrialização verde, que gere emprego e renda em nossos países, sobretudo nos setores de alta tecnologia. Reunimos 33% das terras agricultáveis e respondemos por 42% da produção agropecuária global”, disse
"Crise de governança"
Para o presidente brasileiro, a crise de governança “não é uma questão conjuntural” e cabe ao Brics mostrar que a cooperação “supera qualquer forma de rivalidade”. Ele também reforçou que a Organização Mundial do Comércio [OMC] está paralisada há anos. "Em poucas semanas, medidas unilaterais transformaram em letra morta princípios basilares do livre comércio como as cláusulas de Nação Mais Favorecida e de Tratamento Nacional. Agora, assistimos ao enterro formal desses princípios. Nossos países se tornaram vítimas de práticas comerciais injustificadas e ilegais”, disse.
“A chantagem tarifária está sendo normalizada como instrumento para conquista de mercados e para interferir em questões domésticas. A imposição de medidas extraterritoriais ameaça nossas instituições. Sanções secundárias restringem nossa liberdade de fortalecer o comércio com países amigos. Dividir para conquistar é a estratégia do unilateralismo”, acrescentou.
Neste ano, o Brasil ocupa a presidência do Brics. No contexto de mudanças da geopolítica mundial, em diversos fóruns internacionais, desde o início deste terceiro mandato, Lula vem apoiando a reforma de instituições multilaterais de governança global, como o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) e a OMC.
“Precisamos chegar unidos na 14ª Conferência Ministerial da OMC no próximo ano, em Camarões”, defendeu Lula ao discursar aos chefes de Estado. A reunião foi privada e o discurso do presidente foi divulgado pelo Palácio do Planalto. A reunião foi também ocasião para compartilhar visões sobre como enfrentar os riscos associados ao recrudescimento de medidas unilaterais, inclusive no comércio internacional, e sobre como ampliar os mecanismos de solidariedade, coordenação e comércio entre os países do Brics”, diz outra nota da Presidência do Brasil.
Tarifaço
O tarifaço da Casa Branca busca reverter a relativa perda de competitividade da economia do país norte-americano para a China nas últimas décadas.
A reunião extraordinária ocorreu dois meses após a Cúpula do Brics no Rio de Janeiro, momento em que Trump voltou a ameaçar os países que se alinhem às políticas do bloco.
Durante seu discurso, o presidente da China, Xi Jinping, também comentou a criação da Iniciativa de Governança Global (IGG), possível começo de uma nova ordem mundial. A proposta foi anunciada durante encontro no início do mês com a presença de 20 líderes de países não ocidentais, incluindo o russo Vladimir Putin e o indiano Narendra Modi, também membros do Brics.
Com informações da Agência Brasil