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PF toma depoimento de diretor-geral da Abin de Lula; indiciamento é dado como certo

A suspeita é de que Corrêa tenha atuado para interferir em apurações envolvendo o uso da agência para espionagem ilegal durante o governo Jair Bolsonaro (PL).

Luiz Fernando Corrêa depõe à PF e pode ser indiciado por interferência em investigações sobre espionagem ilegal. | Foto: Lula Marques/Agência Brasil
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O diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Luiz Fernando Corrêa, será ouvido pela Polícia Federal na tarde desta quinta-feira (17) e já enfrenta a possibilidade concreta de indiciamento. A suspeita é de que Corrêa tenha atuado para interferir em apurações envolvendo o uso da agência para espionagem ilegal durante o governo Jair Bolsonaro (PL).

A PF considera haver indícios suficientes de que o atual chefe da Abin, nomeado por Luiz Inácio Lula da Silva (PT), tentou obstruir o avanço das investigações. Além disso, surgiram novas revelações sobre o uso da agência para monitorar autoridades paraguaias, tanto na gestão anterior quanto na atual.


NOME DE CONFIANÇA DE LULA SOB PRESSÃO

Investigadores apontam que, com base nos elementos reunidos até agora — incluindo depoimentos, documentos e perícias técnicas —, já há subsídios para responsabilizar Corrêa e também Alessandro Moretti, ex-número dois da agência. Ambos são acusados de dificultar a atuação policial.

Segundo fontes da corporação, a única chance de reverter a decisão seria a apresentação de uma defesa “irrefutável” nos depoimentos desta quinta-feira — cenário que é considerado improvável.


DISPUTA DE BASTIDORES

Corrêa, que chefiou a PF entre 2007 e 2010, no segundo mandato de Lula, é hoje um dos auxiliares mais próximos do presidente. Desde sua nomeação, a tensão entre a Polícia Federal e a Abin tem se intensificado, alimentada por disputas internas e suspeitas cruzadas sobre interferências nas investigações.


ESPIÕES ALÉM DAS FRONTEIRAS

As investigações se ampliaram após vir à tona que a Abin teria mantido uma operação clandestina de monitoramento contra autoridades do Paraguai — ação que teria sido iniciada no governo Bolsonaro e continuada durante o mandato de Lula. O dado consta no depoimento de um agente da própria Abin, confirmado pela imprensa.

A PF avalia a possibilidade de desmembrar os fatos relacionados ao país vizinho em um novo inquérito, dada a gravidade dos indícios e o uso continuado de ferramentas ilegais de espionagem.


SOFTWARE DE VIGILÂNCIA ILEGAL

O inquérito foi instaurado em março de 2023 e tem como ponto de partida o uso do software israelense FirstMile para monitorar ilegalmente opositores políticos do governo anterior. À época, a Abin era comandada por Alexandre Ramagem (PL-RJ), atualmente deputado federal e apontado como figura central no escândalo.

A PF chegou a realizar buscas em endereços ligados a Ramagem e solicitou ao STF a suspensão de seu mandato parlamentar. O pedido foi rejeitado pelo ministro Alexandre de Moraes após parecer contrário da Procuradoria-Geral da República (PGR).


FRASE POLÊMICA E TENTATIVA DE INFLUÊNCIA

Um dos pontos que acirrou as suspeitas da PF foi uma reunião, em março de 2023, na qual Moretti teria dito que o inquérito tinha “fundo político e iria passar”. A declaração, segundo a corporação, foi uma tentativa de esvaziar a gravidade dos fatos e influenciar os envolvidos. O problema é que a fala, registrada em depoimento, não foi atribuída nominalmente a ele, mas à “direção-geral” da Abin.


DADOS OMITIDOS E COMPUTADORES FORMATADOS

Outro ponto levantado pelos investigadores é a suposta omissão de informações solicitadas e o envio de dados incompletos por parte da Abin, além da formatação de computadores de forma irregular, fora dos padrões esperados em processos de investigação.


INTELIS REBATE E FALA EM PERSEGUIÇÃO POLÍTICA

Em nota divulgada na noite desta quarta-feira (16), a associação Intelis, que representa os servidores da Abin, criticou duramente a condução da PF. A entidade afirma que os investigadores estariam ultrapassando os limites legais do inquérito e tentando deslegitimar o serviço de inteligência nacional.

“A ampliação do escopo do inquérito parece servir a interesses políticos e de deslegitimização da Inteligência de Estado. É inadmissível e nocivo aos propósitos de uma grande nação como o Brasil que uma campanha de descredibilização do seu serviço de Inteligência seja capitaneada, não por atores estrangeiros adversos, mas por grupos da própria administração pública nacional”, diz o texto.


PRÓXIMOS PASSOS

A PF pretende concluir o relatório do inquérito nos próximos dias e enviá-lo à Procuradoria-Geral da República. Caberá à PGR decidir se apresenta denúncia à Justiça, pede novas diligências ou arquiva o caso. Até lá, as acusações seguem tensionando as relações entre a inteligência e a polícia federais, com potencial impacto político para o Planalto.

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