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Presidente da Argentina quer jornada de até 12 horas; quais países trabalham mais horas?

México lidera ranking da OCDE dos países que mais trabalham, seguido por Costa Rica e Chile; Brasil fica abaixo da média mundial

Javier Milei | Foto: Reprodução/Instagram/@javiermilei
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Em meio à promessa do presidente da Argentina, Javier Milei, de promover uma reforma trabalhista que pode aumentar a jornada diária de trabalho de 8 para até 12 horas, um levantamento da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) revelou que três países latino-americanos já estão entre os que mais trabalham no mundo.

Segundo o relatório de 2023 da OCDE, México, Costa Rica e Chile lideram o ranking global de carga horária média anual de trabalho. A organização, que reúne 38 países, tem como objetivo promover políticas para o bem-estar econômico e social.

SOBRE O ESTUDO

O estudo comparou a média de horas trabalhadas por pessoa, incluindo empregados em tempo integral e parcial, e mostrou diferenças significativas entre as nações. A distância entre o país que mais trabalha e o que menos trabalha chega a 864 horas anuais, o equivalente a 108 jornadas de 8 horas.

Os dados foram calculados a partir do número médio de pessoas empregadas e das horas totais trabalhadas ao longo do ano, divididas pelo número de ocupados.

Ranking dos países que mais trabalham

  • 1. México — 2.207 horas anuais

O México ocupa o primeiro lugar no ranking da OCDE com 2.207 horas anuais trabalhadas por pessoa, o que equivale a 276 jornadas de oito horas. O país permite jornadas de até 48 horas semanais, garantindo um dia de descanso remunerado.

Em 2023, o Congresso mexicano chegou a discutir a redução da carga horária para 40 horas semanais, mas a proposta foi suspensa por iniciativa do então presidente Andrés Manuel López Obrador. Sua sucessora, Claudia Sheinbaum Pardo, também não priorizou o tema.

A alta carga de trabalho no México está associada a salários baixos, políticas sociais frágeis e a uma economia baseada em setores intensivos em mão de obra, como a agricultura e a indústria.

  • 2. Costa Rica — 2.171 horas anuais

A Costa Rica ocupa o segundo lugar com 2.171 horas anuais trabalhadas, o que equivale a 271 jornadas de oito horas. Desde 2018, o Congresso costarriquenho debate uma reforma trabalhista que propõe jornadas concentradas de quatro dias de trabalho e três de descanso. O modelo é apoiado pelo setor empresarial, mas ainda enfrenta resistência política.

  • 3. Chile — 1.953 horas anuais

Com 1.953 horas anuais trabalhadas, o Chile fecha o pódio da OCDE. O país iniciou em 2024 a implementação da “Lei das 40 Horas”, que reduz gradualmente a jornada semanal de 45 para 40 horas até 2028.

A nova legislação proíbe cortes salariais e prevê multas para empresas que descumprirem as regras, reforçando a tendência latino-americana de reduzir a carga horária de trabalho sem perda de renda.

  • 4. Grécia — 1.897 horas anuais

A Grécia aparece como o país europeu que mais trabalha, com 1.897 horas anuais. Em 2023, o governo aprovou uma lei que permite semanas de seis dias e amplia o teto para 48 horas semanais em determinados setores.

Os trabalhadores que aderem ao novo regime recebem um adicional de 40% nas horas extras. A medida tem como objetivo reduzir a informalidade e impulsionar o crescimento econômico, mas foi criticada por contrariar a tendência europeia de redução da jornada de trabalho.

  • 5. Israel — 1.880 horas anuais

Em Israel, a média anual de 1.880 horas reflete longas jornadas de trabalho em diversos setores. Pesquisa do Instituto Israelense de Segurança e Higiene (IIOSH) aponta aumento de doenças crônicas entre profissionais que excedem as 42 horas semanais, com maior incidência de fadiga e distúrbios do sono entre mulheres.

  • 6. Coreia do Sul — 1.872 horas anuais

A Coreia do Sul continua entre os países com as maiores cargas horárias do mundo. Em 2023, o governo flexibilizou o cálculo de horas extras, permitindo jornadas de até 21,5 horas por dia — desde que o total semanal não ultrapasse 52 horas. O movimento foi amplamente criticado pela oposição e por sindicatos, que apontam risco de sobrecarga e adoecimento.

  • 7. Canadá — 1.865 horas anuais

O Canadá soma 1.865 horas anuais por trabalhador. A jornada padrão de 40 horas semanais é lei desde 1997 na província de Quebec, mas há variações regionais. O país depende fortemente de mão de obra temporária estrangeira em setores como construção e saúde, o que mantém as horas médias elevadas.

  • 8. Polônia — 1.859 horas anuais

Na Polônia, o total de 1.859 horas anuais decorre da recuperação econômica e do crescimento da indústria manufatureira. Mesmo com medidas de valorização salarial, o país ainda apresenta jornadas longas em comparação a outras economias europeias.

  • 9. Estados Unidos — 1.832 horas anuais

Os Estados Unidos aparecem em nono lugar, com 1.832 horas anuais. A ausência de uma lei federal que limite a jornada e a falta de políticas amplas de licença remunerada contribuem para a cultura de longas horas. Embora altamente produtiva, a economia americana registra aumento de estresse ocupacional e doenças associadas à sobrecarga de trabalho.

  • 10. Turquia — 1.811 horas anuais

A Turquia encerra o ranking com 1.811 horas anuais. O país combina crescimento acelerado com políticas trabalhistas permissivas, que permitem jornadas prolongadas e horas extras frequentes. A ausência de uma rede robusta de proteção social leva muitos trabalhadores a ampliar o tempo de trabalho para complementar a renda.

Brasil e o trabalho excessivo

Embora o Brasil não tenha sido incluído no relatório mais recente da OCDE, dados da OIT (2024) indicam que 11% dos trabalhadores brasileiros têm jornadas superiores a 48 horas semanais, abaixo da média global de 17,7%. A carga horária média no país é de 39 horas por semana, maior que a dos EUA e Reino Unido, mas menor que a da Índia e do México.

O país ainda enfrenta desafios de produtividade e longas jornadas, além de baixo tempo dedicado ao lazer. Especialistas defendem a redução gradual da jornada, com foco em bem-estar e eficiência, e o fim da escala 6x1, que prevê 44 horas semanais de trabalho.

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