O presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar (União Brasil), foi confrontado pela Polícia Federal durante depoimento no Rio sobre a suspeita de não ter comunicado às autoridades o comportamento do deputado Thiego Raimundo dos Santos Silva, o TH Jóias, na véspera de uma operação policial. A investigação teve início após o parlamentar enviar um vídeo ao chefe da Alerj mostrando um freezer cheio de carnes e comentando que não teria como “levar” os alimentos.
Questionado pelo delegado se havia reportado o episódio a algum órgão público, Bacellar respondeu: “Não tô aqui pra entregar colega. Não tô aqui para proteger colega também que faz nada errado.” A fala foi exibida no Fantástico, da TV Globo, neste domingo.
VÍDEO E INDÍCIOS DE VAZAMENTO
A PF identificou sinais de que TH Jóias teria deixado a própria casa às pressas antes da operação realizada em 3 de setembro, levantando a hipótese de vazamento. O deputado acabou localizado e preso em outro imóvel na Barra da Tijuca.
O conteúdo do celular de TH levou os investigadores a suspeitarem que Bacellar não só teria repassado informações sobre a operação como também aconselhado o colega a descartar provas. No depoimento divulgado pelo Fantástico, o delegado insistiu em saber se o presidente da Alerj havia informado o caso à Polícia Civil ou ao Ministério Público. Bacellar admitiu que não comunicou nenhuma autoridade.
Ele relatou ainda: “Confesso que até me assustei. (…) Ele me liga de um telefone que eu não tinha. (…) Eu atendi, mas depois não fiz mais contato com ele. E só falei isso com ele. Falei: ‘Você tá doido?’”
PRISÃO DO PRESIDENTE DA ALERJ
Rodrigo Bacellar foi preso pela Polícia Federal na quarta-feira, acusado de obstrução de investigação. Segundo relatório da PF, ele teria avisado TH Jóias sobre a operação e orientado o deputado a apagar arquivos e eliminar evidências.
A ordem de prisão partiu do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), onde o caso tramita.
QUEM É TH JÓIAS
TH Jóias responde a processos por tráfico de drogas, corrupção, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. As investigações o apontam como articulador de negociações de armas com o Comando Vermelho (CV) e como alguém que se valia do mandato para favorecer atividades criminosas, incluindo compra e venda de drogas, fuzis e equipamentos antidrones no Complexo do Alemão.
Ele também é suspeito de ter indicado a esposa de Gabriel Dias de Oliveira, o Índio do Lixão, para cargo na estrutura parlamentar.
OPERAÇÃO ZARGUN
A prisão de TH Jóias aconteceu no âmbito da Operação Zargun, deflagrada em 3 de setembro. A ação envolveu 18 mandados de prisão preventiva (15 cumpridos) e 22 ordens de busca e apreensão em endereços como Barra da Tijuca, Freguesia e Copacabana. Na sede da Alerj, agentes federais e procuradores recolheram documentos e materiais.
VOTAÇÃO DECISIVA NA ALERJ
A crise política provocada pelo caso levou a Alerj a pautar para esta segunda-feira (08) a votação que decidirá se Rodrigo Bacellar continuará preso. Desde a quarta-feira, ele permanece detido em uma cela de cerca de quatro metros quadrados na Superintendência da PF no Rio.
O resultado do plenário definirá se o presidente licenciado da Casa mantém o mandato enquanto enfrenta aquele que é considerado o momento mais grave de sua trajetória política, sob intensa pressão e repercussão nacional.