Em 24 horas sem álcool, o corpo começa um restabelecimento do equilíbrio químico interno do fígado, mas esse processo de regeneração não é identificável do ponto de vista clínico, tampouco por exame de sangue. As células do fígado já entram no modo de reparo, retomando funções essenciais, como oxidar gordura, acumular glicose, depurar outras substâncias tóxicas e eliminar radicais livres que vêm de outras substâncias. Esse processo de recuperação é silencioso e vai depender de como o fígado estava quando o indivíduo decidiu parar de beber.
“A recuperação de uma pessoa que já tem cirrose após parar de beber vai ser muito mais lenta e limitada do que a de uma pessoa que não tinha o costume de beber de modo abusivo, mas sempre há benefícios”, explicou Roberto José de Carvalho Filho.
Para alguns indivíduos, há também melhora subjetiva de sono e hidratação em cerca de dois dias a uma semana, mas isso varia e não serve como marcador de recuperação hepática por si só. As melhoras laboratoriais e estruturais costumam demandar semanas, complementou Grossi.
Filho destacou que o fígado sofre silenciosamente e pode estar sendo lesionado há anos sem causar sintomas perceptíveis: “Mesmo quem se sente bem pode ter alterações silenciosas em andamento. Parar de beber, até temporariamente, dá ao fígado a chance de interromper esse ciclo de dano silencioso e iniciar um processo de recuperação que, quanto mais precoce, mais eficaz será”, destacou o médico hepatologista.
Além disso, a ressaca não é um ‘golpe no fígado’. Ela é muito mais um resultado de uma intoxicação nos tecidos neurológicos do cérebro e do estômago.