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Saúde pública acende aponta vício: febre do ‘morango da ansiedade’ não é tão doce assim

Apelo visual e social ativa um comportamento coletivo movido por pertencimento, muitas vezes impulsionando decisões que não seriam tomadas fora desse contexto

Morango do amor está na boca e preferência de várias pessoas | Foto: Divulgação
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Em meio às novidades gastronômicas que viralizam nas redes sociais, uma nova sensação tem ganhado destaque: o morango do amor. Inspirado na clássica maçã do amor, o doce consiste em um morango coberto por brigadeiro branco e mergulhado em calda de caramelo vermelho. A aparência atrativa e os vídeos com mordidas crocantes e recheios escorrendo têm se multiplicado nas telas, junto de elogios empolgados e a típica frase: "você precisa experimentar!".

O fenômeno vai além do paladar. “As pessoas sentem uma vontade imediata de participar, de não ficarem de fora”, explica o psicólogo Thiago Ayala. Para ele, o apelo visual e social ativa um comportamento coletivo movido por pertencimento, muitas vezes impulsionando decisões que não seriam tomadas fora desse contexto.

Com atuação no Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Ayala é especialista em psicologia da saúde e terapia cognitivo-comportamental. Ele afirma que esse tipo de comportamento revela o quanto estamos sendo guiados pela necessidade de fazer parte das tendências, mesmo que inconscientemente.

Febre de consumo

Esse impulso constante por consumir o que está em alta pode gerar efeitos emocionais, segundo Ayala. Quando a busca por novidades vira hábito, o cérebro associa prazer à aceitação social, o que leva à frustração quando as expectativas não são atendidas. “O problema não é o doce em si, mas a velocidade com que desejos são criados e abandonados”, alerta o psicólogo.

Além de influenciar comportamentos, essa tendência também impacta o bem-estar físico, financeiro e até os relacionamentos. Para Ayala, a questão principal é refletir: “Eu realmente quero isso ou só quero me sentir incluído?”. Controlar impulsos não significa abrir mão dos prazeres, mas fazer escolhas mais conscientes.

Do ponto de vista nutricional, o morango do amor também merece atenção. Apesar de levar uma fruta rica em vitamina C, antioxidantes e fibras, o doce pode ultrapassar 300 calorias por unidade, especialmente dependendo do tamanho e da quantidade de cobertura utilizada.

A nutricionista Laura Oliveira Pael, do Humap-UFMS, alerta para os riscos do consumo frequente: “Ele pode causar picos de glicemia, ganho de peso, resistência à insulina e até contribuir para doenças autoimunes, já que altera a permeabilidade intestinal. É um produto feito com ultraprocessados, indo contra as orientações do Ministério da Saúde e da OMS”.

Como alternativa mais saudável, Laura recomenda morango com chocolate 70% cacau, creme de ricota ou iogurte natural sem açúcar. “E se for consumir o morango do amor, é melhor fazê-lo após as refeições principais, nunca em jejum”, aconselha.

Por fim, é importante lembrar que o Humap-UFMS integra a Rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares), vinculada ao Ministério da Educação. A Ebserh administra 45 hospitais universitários federais, que prestam atendimento ao SUS e também fomentam a formação de profissionais da saúde e pesquisas na área.

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