Um policial civil é investigado após tentar negociar com um colega para que um aparelho celular apreendido durante a Operação Tropa do Empresário fosse retirado do material oficial. Segundo o inquérito policial, o agente ofereceu valores entre R$ 10 mil e R$ 50 mil para que o colega trocasse o celular por outro, configurando crimes de corrupção passiva e fraude processual.
O caso envolve o investigador Francisco Aristófanes Chaves Taveira, que também exercia o cargo de Diretor de Formação Sindical do Sinpol CE. O objetivo do policial, conforme apontam as investigações, era impedir a extração e análise de dados contidos no celular de Maysson Jefferson Lima dos Santos, preso durante a operação, obstruindo a investigação criminal.
Tentativa de suborno
Dois dias após a operação, Aristófanes, identificado apenas como “Ari”, entrou em contato com o colega de corporação por telefone e pediu um encontro presencial urgente, realizado em frente a uma concessionária em Fortaleza. Na conversa, perguntou se os IMEIs dos celulares apreendidos haviam sido registrados e se os aparelhos já tinham sido encaminhados para extração de dados.
Quando o colega disse não ter certeza, o policial teria afirmado que o aparelho continha “informações extremamente perigosas e comprometedoras” e propôs a troca do celular, oferecendo pagamento. A comunicação continuou por códigos, como “Vai dar certo o racha com a galera” e “Não vai dar certo o racha com a galera”, para indicar se a troca seria possível.
Denúncia e coleta de provas
Na mesma noite, o policial abordado denunciou Aristófanes à delegacia responsável. Orientado a manter contato, ele ajudou a coletar evidências adicionais sobre a conduta do investigado. Imagens de câmeras de segurança registraram o encontro presencial, e mensagens posteriores confirmaram a tentativa de fraude.
Mesmo após o colega informar que “furou o racha”, Aristófanes ligou novamente pedindo detalhes sobre o ofício de transferência dos celulares, tentando usar o documento para subornar outro agente nos órgãos de inteligência, segundo o inquérito.
Contexto da operação
A Operação Tropa do Empresário, realizada em julho de 2025, prendeu cinco pessoas e cumpriu mandados de busca e apreensão nos estados do Ceará, Piauí, Goiás, São Paulo e Paraná. A investigação começou em 2022, após a prisão de um traficante em Caucaia, envolvido com o comércio de drogas em regiões turísticas do litoral cearense.
O grupo investigado ajudava criminosos a lavar dinheiro do tráfico, sendo chamado de “Tropa dos Empresários”, nome que inspirou a operação policial.
Defesa e trâmite disciplinar
Procurada, a defesa de Francisco Aristófanes afirmou que ele nunca tratou sobre o celular apreendido nem ofereceu vantagem indevida, e que a comunicação se referia a um foragido da Justiça e a um jogo de futebol entre colegas. A defesa sugere que a acusação pode ter motivação por animosidades pessoais.
A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) informou que o inquérito foi finalizado e encaminhado ao Judiciário, e que o procedimento disciplinar contra o policial segue em trâmite.