Caso Janaína Bezerra: Alunos fazem 3º dia de protesto pela morte da jovem

O ato conta com cartazes e faixas que pedem justiça e medidas de segurança em prol das mulheres

Protesto | Ananda Soares
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Teresina registrou nesta quarta-feira (1º) o terceiro dia de protestos pela morte da estudante de Jornalismo Janaína Bezerra, de 22 anos, estuprada e assassinada em uma sala de mestrado em Matemática da Universidade Federal do Piauí (UFPI), situada na zona Leste de Teresina. O ato contou com cartazes, carro de som e faixas pedindo justiça e medidas de segurança em prol das mulheres.

Os manifestantes se concentraram por volta das 8h no Centro Acadêmico de Comunicação Social (Cacos), espaço frequentado por alunos de Jornalismo, onde foi definido o trajeto do ato e a produção de cartazes em homenagem à estudante.

Estudantes fazem 3º dia de manifestações pela morte de Janaína Bezerra - Foto: Pedro Melo/Cedidas ao meionorte.com

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Depois disso, o grupo convocado por movimentos estudantis seguiu em direção à entrada principal da UFPI com gritos de “Vem para a rua”, “Fora Gildásio" e “Justiça para Janaína”. Trechos da Avenida Nossa Senhora de Fátima chegaram a ser interditados por cerca de 10 minutos.

Após as interdições, manifestantes foram até o prédio da Reitoria para pedir um posicionamento do reitor Gildásio Guedes a respeito do feminicídio de Janaína e demais casos de violência relatados por estudantes.

“Estão agindo como se nada tivesse acontecido”

Durante o ato, a estudante de Filosofia da UFPI, Ana Karina Andrade, 22 anos, questionou o silêncio de alguns professores e estudantes diante do caso. “Estamos reunidos em memória e justiça pela Janaína e nos perguntamos porque alguns professores e alunos da UFPI estão agindo como se nada tivesse acontecido. Na segunda-feira (30), nós tivemos uma paralisação oficializada pela universidade, fizemos atos e vigília, ocupamos a reitoria na terça-feira (31) e chegamos a ser julgados como invasores pela mídia mentirosa. Precisamos de apoio, luta”, expressou a estudante.

Ana Karina e demais membros da comunidade estudantil que participam das mobilizações esperam sensibilizar a população e convocar um ato nacional para chamar atenção sobre o feminicídio cometido na UFPI.

“Estamos tentando fazer uma manifestação nacional. Até agora, no entanto, só temos o apoio das universidades do Ceará e dos campi da UFPI de Picos e Teresina”, contou.

Ana Karina relatou que além da revolta, há o medo. Há cerca de dois meses, alunas de Filosofia recorreram ao Diretório Central dos Estudantes (DCE) para montar um comitê de segurança após relatos de casos de assédio sexual na instituição.  “Nos mobilizamos para montar um grupo de segurança com apitos e coisas relacionadas a isso em casos de urgência, mas nada chegou a ser feito”, explicou.

Caso Janaína Bezerra: Alunos fazem 3º dia de protesto pela morte da jovem - Foto: Ananda Soares/Meio Norte

Ana Karina falou ainda que seus familiares estão apreensivos com a falta de segurança na instituição.

“A minha mãe fica preocupada o tempo todo e minhas tias me ligam preocupadas com minha segurança. Elas tinham a ideia de que a UFPI seria um lugar seguro para mim, uma certeza que se foi. Na verdade, eu nunca tive essa certeza porque, enquanto mulher, eu tenho medo de ficar até tarde em uma parada de ônibus e tenho medo de andar no campus em meio a toda essa escuridão. Eu penso sempre no pior, penso no que aconteceu com a Janaína”, relatou.

A aluna do curso de Letras da UFPI, Crislayne da Silva, de 18 anos, também tem a mesma preocupação. “Nós pedimos justiça pela Janaína e segurança para nós mesmas. Eu estou com sentimentos de revolta e medo”, disse.

 Estudantes querem indenização à família e memorial na UFPI

Estudantes da Universidade Federal do Piauí (UFPI) elaboraram na terça-feira (31), após uma assembleia-geral e ocupação a reitoria do campus Ministro Petrônio Portela, uma série de propostas para a instituição de ensino diante da morte da estudante de jornalismo Janaína Bezerra da Silva, ocorrida no último sábado (28).

Caso Janaína Bezerra: Alunos fazem 3º dia de protesto pela morte da jovem - Foto: Ananda Soares

Entre as sugestões, está a proposta de indenização da família da jovem, melhorias na iluminação, ampliação de todas as frotas de ônibus que atendem a universidade e claro, mais segurança no campus, a principal pauta discutida pelo movimento estudantil. 

Veja as propostas na íntegra: 

Janaína Bezerra: Estudantes querem indenização à família e memorial na UFPI (Foto: Imagem cedida ao Meionorte)

Além disso, os estudantes propõem uma nota de retratação por parte da UFPI em relação à criminalização das ‘calouradas’ e do movimento estudantil (DCE). A Pró-Reitora de Ensino de Pós-Graduação, Regilda Saraiva, se apresentou como representante do reitor Gildásio, que está de férias, para atender as reivindicações dos estudantes e assinou o documento. 

O Meionorte.com apurou que ela se comprometeu em dar um retorno para os estudantes nesta quarta (1°), momento em que será realizado um outro ato unificado no Centro de Ciências da Educação (CCE). Os estudantes partirão em seguida para o Centro de Ciências da Natureza (CCN). 

Pró Reitora escutou estudantes e assinou propostas para retorno das reividicações (Foto: Raíssa Morais/ Meio Norte)

Protesto dos alunos

Na manhã de terça-feira (31), os alunos se reuniram no coreto da Reitoria, por volta das 9 horas, em protesto contra a morte de Janaína Bezerra, de 22 anos, aluna do curso de Jornalismo. Os estudantes realizaram uma assembleia-geral em memória e justiça pela vítima e deliberaram um calendário de mobilizações para os próximos dias. Os atos são convocados pelo Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFPI.

A primeira ação do movimento foi o pedido de diálogo direto com os representantes da reitoria, que só haviam se manifestado por meio de notas e entrevistas para imprensa. A ocupação da reitoria, segundo a aluna do curso de Biologia, Isadora Monteiro, foi a melhor forma dos estudantes serem ouvidos pelo reitor Gildásio Guedes.

"A ocupação acontece porque nós queremos um diálogo justo e honesto, buscamos respostas verdadeiras da universidade para melhorar a nossa situação. A UFPI está tentando esconder sua culpa jogando tudo isso contra o DCE”, contou.

Reivindicações

Segundo os estudantes, o caso de feminicídio de Janaína, que ocorreu em uma sala da universidade, alerta para necessidade urgente de proteção e apoio às vítimas de violência e não há espaço para associações equivocadas usadas como meio de culpabilizar uma vítima.

“A ocupação se trata de uma reivindicação de direitos. Estamos exigindo direitos que nos foram negados e que são violados. Não aceitaremos julgamentos errados e mentirosos de quem não é sensível à morte de uma jovem”, falou o estudante de Filosofia André Mendes, após um diretor administrativo da UFPI dizer, durante uma entrevista para uma televisão local, que o ato dos alunos era, na verdade, uma “invasão”.

Instituição anunciou medidas de combate à violência e a probição de calouradas

Nesta terça-feira (31), a Administração Superior da Universidade Federal do Piauí (UFPI) anunciou medidas de enfrentamento à violência no campus de Teresina. De acordo com a portaria, a UFPI vai trabalhar para a constituição de uma comissão que vai elaborar um protocolo oficial de enfrentamento à violência contra as mulheres, com estratégias educacionais e em parceria com outras instituições.

Confira as medidas adotadas:

instalação de Comissão de Sindicância Investigativa para apuração de eventuais responsabilidades administrativas no âmbito interno;

acesso restrito, a partir de 22h, nas vias de circulação exclusivamente interna no campus Ministro Petrônio Portella - Teresina;

suspensão da realização de eventos festivos até a regulamentação da matéria pelo devido Conselho Superior. Nesse período, excepcionalmente, esses eventos poderão ocorrer mediante solicitação formal do demandante e com autorização expressa do gestor do espaço;

constituição de comissão para elaboração de protocolo oficial de enfrentamento à violência contra as mulheres no âmbito da UFPI, incluindo estratégias de sensibilização e educação permanente, em parceria com outras instituições do estado que também discutem a questão da violência de gênero, e considerando estudos, pesquisas e experiências já produzidas pela própria comunidade ufpiana;

continuidade das ações de apoio à família de Janaína Bezerra, por meio da atuação da Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis e Comunitários (PRAEC), que procederá a cuidados psicossociais, com visitas domiciliares por equipe multiprofissional, composta por psicólogos e assistentes sociais da instituição.



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