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De “pior dia de violência” a “cenas dantescas”: como a mídia internacional noticiou a megaoperação no Rio

A operação realizada nos complexos da Penha e do Alemão busca conter o avanço do CV em territórios fluminenses e ganhou destaque na mídia internacional pelo alto número de mortos e pela violência

Ação mais letal da polícia do Rio amplia desafios à política de segurança nacional | Foto: Reprodução
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A megaoperação no Rio de Janeiro, realizada na terça-feira (28/10), chamou a atenção da mídia internacional pelas cenas de violência e pelo número de mortos. A ação das polícias Civil e Militar foi realizada nos complexos da Penha e do Alemão, na Zona Norte do Rio de Janeiro, com o objetivo de cumprir mandados de prisão contra integrantes do Comando Vermelho (CV), mas criminosos reagiram com alto poder bélico.

Segundo dados do Palácio Guanabara, a Operação Contenção é considerada a mais letal da história do estado. Até o momento, ao menos 64 pessoas foram mortas, entre elas 4 policiais, e 81 presas durante a operação. Além disso, cerca de 2,5 mil oficiais foram mobilizados para a ação, incluindo promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco/MPRJ).

The New York Times (EUA)

O The New York Times ressaltou a fala do governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, sobre como a ação era um movimento contra narcoterroristas e relacionou o termo à campanha em andamento do presidente americano Donald Trump contra o tráfico de drogas na América Latina.

“No Brasil, isso foi visto por alguns como uma tentativa de Castro, um aliado de extrema direita do ex-presidente Jair Bolsonaro, de obter vantagens políticas na questão do crime organizado, um importante tema de discussão conservador”, disse o jornal.

As falas do senador Flávio Bolsonaro, sobre ele estar com “inveja” das operações americanas no Caribe e que as autoridades americanas poderiam ajudar o Brasil a “combater essas organizações terroristas” também foram mencionadas.

The New York Times (Foto: Reprodução: The New York Times)

The Guardian (Reino Unido)

Já o The Guardian disse que esse teria sido “o pior dia de violência já registrado no Rio de Janeiro” e que as armas apreendidas eram “um sinal do poderoso arsenal que os traficantes de drogas adquiriram desde que começaram a dominar as favelas no final da década de 1980”.

O jornal britânico apontou ainda que o governador Cláudio Castro afirmou que a cidade “está em guerra” e classificou os criminosos como “narcoterroristas”.

Por outro lado, também foi destacado o posicionamento do ativista comunitário Rene Silva, que dirige o jornal Voz das Comunidades, que disse ao The Guardian estar desanimado com “a insistência do governo em realizar operações policiais mortais e, em última análise, ineficazes nas favelas”.

 The Guardian (Foto: Reprodução: The Guardian)

Financial Times (Reino Unido)

O Financial Times afirmou que o crime organizado é um problema em crescimento no Brasil e na região da América Latina, em partes impulsionado pelo aumento no consumo de cocaína nos EUA e na Europa.

“Em todo o continente, as gangues se diversificaram em atividades que vão desde o tráfico de armas e a mineração ilegal de ouro até a infiltração em negócios legítimos.” O jornal destaca que o combate ao narcotráfico na região está entre as prioridades do governo Trump, que sugeriu ao governo brasileiro classificar tanto o Comando Vermelho quanto o Primeiro Comando da Capital (PCC) como grupos terroristas.

O Financial Times também escreveu que “embora as autoridades tenham afirmado que os confrontos ocorreram principalmente em áreas florestais e que houve planejamento para proteger vidas, críticos da operação questionaram o uso generalizado de força letal.”

Financial Times (Foto: Reprodução: Financial Times)

Washington Post (EUA)

A letalidade da operação policial foi destacada pelo Washington Post, que escreveu “criminosos” entre se referir aos 60 mortos, além dos quatro policiais que também perderam suas vidas. “As identidades dos mortos não foram divulgadas. O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, disse que entre eles havia ‘civis inocentes'.

“O que diferenciou a operação de terça-feira foi a escala das mortes. O número de mortos foi mais que o dobro das 28 pessoas mortas na operação policial mais letal anterior do estado, o massacre de Jacarezinho em 2021, durante o primeiro mandato de Castro”, escreveu o jornal.

O Washington Post apontou também que o tema de segurança pública supera as preocupações com a economia e a saúde na população brasileira, mas que agora o tema é usado como disputa política, inclusive com o conflito das narrativas nas quais Castro afirma ter pedido auxílio do governo federal e Lewandowski dizer que não houve nenhum pedido formal.

Washington Post (Foto: Reprodução: Washington Post)

 
El País (Espanha)

O El País destacou que o Rio de Janeiro teve um “dia de caos colossal e intensos tiroteios”, mesmo para uma cidade “acostumada com a violência”. O jornal explica a origem do CV e disse que, no Brasil, a organização criminosa só é superada pelo rival Primeiro Comando da Capital (PCC).

“O governador Castro, apoiador de Bolsonaro, reclamou que as Forças Armadas rejeitaram três vezes seus pedidos de veículos blindados de apoio. Ele pediu ajuda aos militares, argumentando que esta ‘é uma guerra que nada tem a ver com segurança urbana’, mas é alimentada ‘pelas armas do narcotráfico internacional”, escreveu o El País.

El País (Foto: Reprodução:  El País) 

Clarín (Argentina)

O argentino Clarín destacou que os “traficantes de drogas se defenderam da ofensiva policial lançando explosivos de drones” e que as cenas do confronto “lembram cenas de cidades sob fogo em conflitos armados”.

O jornal também relaciona os acontecimentos desta terça-feira com o da ocupação do morro do Alemão em 2010, quando criminosos também fugiram pelas regiões mais altas da comunidade.

Clarín (Foto: Reprodução: Clarín)

La Nacion (Argentina)

O La Nacion  disse que as cenas no Rio de Janeiro eram “dantescas”, com líderes comunitários tentando ajudar famílias a reconhecer corpos e alegando que policiais estariam impedindo o acesso de regiões onde poderia haver mais vítimas.

O jornal argentino também destacou que organizações de direitos humanos criticaram a falta de transparência nos números oficiais e que, em 2020, o Supremo Tribunal Federal havia limitado o uso de helicópteros em operações nas favelas e que áreas escolares e centros de saúde também deveriam ser respeitadas.

La Nacion (Foto: Reprodução: La Nacion)

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