Elize Massard da Fonseca, Fundação Getulio Vargas, e Scott L. Greer, Universidade de Michigan
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro não apenas deixou de responder à covid-19 – que ele classifica como uma “gripezinha”: ele agravou ativamente a crise no Brasil.
Bolsonaro utilizou seus poderes constitucionais para interferir nas questões administrativas do Ministério da Saúde, como protocolos clínicos, divulgação de dados e aquisição de vacinas. Ele vetou a legislação que obrigaria o uso de máscaras em locais religiosos e compensaria os profissionais de saúde permanentemente prejudicados pela pandemia, por exemplo. E ele obstruiu os esforços de governos estaduais para promover o distanciamento social e usou seu poder de decreto para permitir que muitos negócios permanecessem abertos como “essenciais”, incluindo spas e academias. Bolsonaro também promoveu agressivamente medicamentos não comprovados, principalmente hidroxicloroquina, para tratar pacientes com covid-19.
Bolsonaro usou seu perfil público como presidente para moldar o debate em torno da crise do coronavírus, fomentando um falso dilema entre catástrofe econômica e distanciamento social e deturpando a ciência. Ele culpou os governos estaduais brasileiros, a China e a Organização Mundial da Saúde pela crise da covid-19 e nunca se responsabilizou por administrar o surto em seu próprio país.
Em dezembro, Bolsonaro declarou que não tomaria a vacina por causa dos efeitos colaterais. “Se você se transformar em um jacaré, o problema é seu”, disse ele.
A má gestão da pandemia de Bolsonaro criou conflito dentro de seu governo. O Brasil passou por quatro ministros da Saúde em menos de um ano. O surto descontrolado no Brasil deu origem a várias novas variantes do coronavírus, incluindo a variante P.1, que parece mais contagiosa. A taxa de transmissão de covid-19 do Brasil está finalmente começando a cair, mas a situação ainda é preocupante.